sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

N A P O L E Ã O

Não vou aqui invocar o imperador francês do princípio do sec XVIII, seria um desperdício de tempo e talvez muito fastidioso e até desinteressante. O Napoleão que me proponho falar e que faço com imenso gosto, é do gato da minha cunhada a quem foi dado esse pomposo nome.
Portanto, o gato Napoleão, um animal de raça siamesa, é um bicho muito inteligente e de fácil domesticação. Foi importado para a Europa, do Extremo Oriente, do Sião, donde é originário. Um animal muito bonito, muito meigo e também muito senhor do seu nariz.
Para além dos atributos próprios da sua raça, este gato tem particularidades muito invulgares, que o tornam muito querido pela familia. Tenho muito carinho por todos os animais e assim, sempre que podia, brincava um pouco com o Napoleão.
Tinha de ter um certo cuidado, porque o Napoleão para além da sua pujança física, tinha naturalmente um arsenal bélico de muito respeito, constituído por quatro dentes afiadíssimos, dois em cima e dois em baixo, na boca, claro, e umas unhas que impunham grande respeito. Assim, o Napoleão, quando decidia pôr a funcionar tais apetrechos, de certo que o visado ficava bem marcado e para bastante tempo. O Napoleão, comigo, era muito respeitador. Autorizava que o afagasse da cabeça ao rabo, até gostava, mas se tentasse passar-lhe a mão numa pata ou de lado numa das bofelas, o Napoleão punha imediatamente a funcionar as unhas e os dentes com tal destreza e violência que era dificil sair incólume de tão furioso ataque.
O Napoleão era famoso, bastante mais, no que diz respeito ao seu comportamento com as gatas e, consequentemente, com as guerras que deveria ter com os gatos, por causa delas. Ele, de vez em quando desaparecia e, ao fim de três, quatro dias é que voltava. Muito cansado, todo mordido, sem pelo e carne viva a ver-se, enfim - o bicho aparecia em casa numa desgraça física completa.
O maior problema é que a minha cunhada, quando tal acontecia, vinha logo com a ameaça de que iria mandá-lo capar, pois dessa forma ele deixaria de tomar assim essas atitudes de sair de casa sem dizer "água vai", passaria a ter um comportamento mais "civilizado", e até ficaria mais bonito " de se ver".
Considerava uma crueldade enorme para com o animal, era um defensor acérrimo de manter o Napoleão com todas as suas partes intocáveis, principalmente aquelas em que um homem tem mais vaidade, desculpem, neste caso, é um gato que mostra toda a sua virilidade, precisamente quando aparece em casa da dona nas condições em que chega o Napoleão. O pecado do bicho era apenas este, ainda por cima, tratando-se duma generosa dádiva da mãe natureza.
Veja-se outros animais que só querem comer e dormir, estou a lembrar-me por exemplo, do cão do Maunuel Alegre que passava o tempo deitado a dormir numa sala da casa do poeta. Ele não diz nada da virilidade do seu cão, mas cá para mim, era bem o reverso da medalha do Napoleão.
Porém, o maior problema do Napoleão e que acabou por causar grande desgosto a todos nós e uma profunda tristeza para a minha cunhada foi o facto de ele causar alergias a alguns familiares que se viam impossibilitados de irem lá a casa. Assim, ou eles ou o gato. Claro que o Napoleão, tendo-se livrado de ser capado, não pôde continuar lá em casa.
Um certo dia, apercebendo-se de que o iam levar para parte incerta, encostou-se na parte mais escondida da casa para ver se passava despercebido, mas foi ao mesmo tempo pensando, com muita mágoa nas belas noites de luta e de amor, (luta com os gatos e amor com as gatas) que não voltaria mais a ter.
A minha cunhada sentiu realmente um grande desgosto, Mas, valha a verdade, teve por parte da mãe, minha sogra, um apoio imenso, que a consolou naquelas horas mais difíceis em que ela se viu privada do bicho. Não é para admirar, a minha sogra sempre foi assim com a filha, muito amiga, muito terna, desde pequenina. A minha cunhada também enche a boca quando fala da mãe. E como disse, foi o que valeu à minha cunhada aqueles dias de grande tristeza.
O Napoleão lá foi à vida dele, vida de gato bem felino, consta-se mesmo que já conseguiu voltar às suas noitadas com o mesmo apetite a mesma valentia que lhe dá jus e torna infalivelmente merecedor do nome que lhe puseram. Bem haja NAPOLEÃO.

2 comentários:

vareira disse...

Grande gato, esse Napoleão, que tantas palavras já foram ditas por ele...umas contra outras a favor.Mas importante é que ele está bem...e assim todos ficam bem...

Rui Guerra disse...

ainda bem que apareceram estas palavras. é que ao fim de um mês, já ninguém pergunta pelo gato. se está bem, mal, vivo ou morto.
"os que ficam bem", estão com mais saúde e recomendam-se. esperando que por cá permaneçam muitos e bons anos.