terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Um envelope...

Tecnicamente um envelope não é só um invólucro que, como a palavra deduz, envolve e resguarda um papel ou documento, e que o transporta de um lugar para outro. Se pensarmos com mais profundidade, um envelope pode representar muito mais que esta simples missão de envolvimento e transporte de qualquer documento. Logo, ele tem uma representação equivalente àquilo que envolve. Se se trata de um documento importante o envelope poderá ser olhado também com um cuidado e uma expectativa mais responsável. Se, pelo contrário, esse documento tem um valor de somenos importância, concerteza que o envelope nem sequer é reparado e imediatamente remetido para o cesto dos papeis.

Porém, não tenhamos ilusões quanto à importância que o envelope tem no nosso espírito. No quotidiano da nossa vida não temos a mínima percepção do que representa este insignificante instrumento que, aparentemente, tem a simples função já descrita. Senão vejamos:

Imagine-se que na nossa caixa do correio encontramos duas cartas, uma de um amigo que se encontra de férias, outra da secção de finanças do local da nossa residência. Qual dos dois envelopes damos imediata atenção?- Claro, é o das finanças que vamos abrir imediatamente, que vamos ter mais cuidado, que vamos proceder com mais atenção, que muito provavelmente não o vamos lançar imediatamente ao lixo. Olhamos para aquele envelope com um misto de receio e preocupação. O que lá virá dentro? - Será algo que me traz algum problema , que me vai estragar a boa disposição que tenho tido nestes últimos tempos? E o envelope rodeia nas nossas mãos que começam a ficar frias e tensas. A sua abertura é feita com uma expectativa dolorosamente sôfrega e funesta.

A carta do amigo ficou esquecida, aquele envelope não vai ser aberto tão cedo, a sua função não vai terminar já, o destinatário não lhe vai dar a mínima importância ao contrário do que acontece com aquele das finanças.

Existem outros envelopes muito antipáticos de que nós não damos o mínimo valor, embora estejamos muito familiarizados com eles que são os que nos trazem contas para pagar uma vez por mês. Refiro-me aos envelopes que envolvem contas de telefone, água e energia eléctrica. Esses, são amarrotados com alguma violência e sem serem sequer olhados, são enviados rapidamente para o lixo.

Ainda temos aquele envelope, também, tragicamente recebido por nós e nos remete para uma agonia tão grande como o das finanças. Refiro-me ao da direcção geral de viação. Um envelope azul deslavado, mesmo feio esse azul, com uma janelinha onde transparece o nosso nome quase irreconhecível, mas está lá para nosso desespero. Esse envelope nojento, (desculpem o termo) de certeza que nos traz a indicação duma multa correspondente a uma infracção ao abrigo do parágrafo tal do número tal do artigo número qualquer coisa que não percebemos nem nos interessa. Imaginem a importância dum simples envelope!

Por último e, para ficarmos bem dispostos e até mesmo felizes, vou falar dum envelope maravilhoso, pelo menos para mim. Aquele que transporta a carta da nossa namorada, se se trata, claro, duma namorada de quem nós muito gostamos. A minha experiência (muito antiga) me diz que é uma sensação maravilhosa aquela que sentimos quando olhamos para um envelope que chega inesperadamente às nossas mãos.

Vou recordar o tempo em que tinha vinte anos, já lá vão quarenta e seis. - A primeira carta que recebi da minha namorada, tinha ela quinze anos e que é hoje minha mulher, foi duma alegria e felicidade tão grande que me é impossivel descrever. Aquele envelope colocado pela minha mãe em cima da mesinha de cabeceira, ainda hoje é recordado com uma ternura indescritivel. As cartas que recebi da minha mulher, quando minha namorada e as que ela me escreveu, que são algumas centenas, estão guardadas dentro dos envelopes.

Um pormenor interessante que ilustra bem a importância do envelope, é o facto de, quando estive como combatente em Angola, ter deixado à minha namorada, envelopes de cor azul para serem prioritariamente identificados no meio de toda a correspondência que chegava ao local onde me encontrava. Assim, o envelope sobressaia de todos os outros, era facilmente identificável por mim, proporcionando-me assim uma alegria e felicidade antecipada o que era extremamente benéfico para a minha situação psicológica.

Esta descrição dum documento tão simples e inverosimel, tem uma importância incomensurável na nossa vida. Mereceu pois que se fizesse esta simples e talvez incompleta reflexão.

A nossa vida não será simples e incompleta? - Complicada, quase sempre, porque assim a entendemos e a queremos. - Incompleta, a nossa vida, é sempre, mesmo que não queiramos que assim seja.

2 comentários:

cyrano disse...

sou um optimista por natureza,
herança do Pai, digo eu
quando os enmvelopes são de contas, nem os abro, com sabes.
Já se forem de amigos ou amigas, não importa a côr que tem... se forem azuis ainda melhor. A côr dos três melhores clubes do mundo:Porto, Belenense e Candal.
Bem...Podemos admitir que o feirense também é um grande clube (temos que dar um bocado de graxa à rainha mãe)

vareira disse...

Nunca recebi envelopes azuis, mas não posso esquecer a alegria dos que recebia com letra gorda vindos de Valença(quase sempre trazidos por ti...), e dos que anos mais tarde recebi, como uma namorada ansiosa, enviados da cidade dos estudantes...mas os mais importantes, coloridos, azul e branco, e aos bonequinhos, foram aqueles "envelopes" onde se punham tanto o João como a Leonor para ficarem bem protegidos...envelopes, envelopes...