segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

D. MÁRIO I - O IMPOSSIVEL

Há dias, na Fundação Mário Soares, quando o Primeiro Ministro, José Sócrates, no decorrer do seu discurso, um convidado teria dito em voz alta que era "propaganda" o que ele estava a discursar, o Dr. Mário Soares logo se indignou e num assomo de contrariedade e, ao mesmo tempo, de oportunidade, mandou calar o incómodo convidado. Tratava-se dum ex-sindicalista e também ex-militante das FP25. A verdade é que o nosso Primeiro Ministro não precisa de fazer propaganda quando profere os seu discursos. Todos sabemos que não falta quem se incumba dessa missão, e com muito sucesso. Basta abrir as páginas dos jornais ou ver os noticiários das televisões, para nos entrar pela nossa casa, todos os dias em todas as horas, membros do governo e do partido que o sustenta, não só mostrando-se propositadamente, mas também, "blablando, blablando" sobre as iniciativas dos seus ministérios, cheias de tudo que é bom para o povo. Claro que, também temos de ter em atenção, que fazem imensa propaganda todos os portugueses que, pelo país fora, se manifestam nas ruas e em locais frente aos edifícios dos SAP encerrados pelo ministro, vendo-se privados dos mais elementares direitos à saúde, maternidades e outros serviços de urgência com a justificação do respectivo ministro, de que são reformas estruturais que vão, isso sim, melhorar e de que forma a vida dos cidadãos. Basta ver, também, os professores nas escolas em "palpos de aranha" e amedrontados com as leis que são aprovadas pelo governo, quase ininterruptamente, pondo em causa de certo modo, o seu futuro. A multidão de desempregados que todos os dias, quando se levantam, tristes e desalentados com o amargo sabor de se sentirem como dejectos duma sociedade injusta onde, uns tantos, têm muito mais que tudo e a maioria tem muito menos que nada. Toda esta gente que é uma Nação inteira, faz propaganda! O Primeiro Ministro, efectivamente, por estas e outras razões, não tem por que se manifestar com esse espírito de boa disposição e convencimento que caracteriza a sua maneira de estar na política. Porém, a minha intenção ao iniciar este pequeno e simples rascunho, não era falar dos problemas com que se debate o nosso país, mas sim, falar um pouco do patrono dessa instituição que é a Fundação Mário Soares.
Desde que o Dr. Mário Soares se candidatou a presidente da republica, sempre fiquei com a impressão que não era esse o cargo que ele mais pretendia. Sabemos que o Dr. Mário Soares sempre foi uma pessoa dotada de grandes sentimentos, bondade e um carisma muito especial na vida política do nosso país. Por vezes ouço jornalistas dizerem que ele foi "um animal político". Nunca gostei dessa expressão que considero grotesca e malcriada. Porém, como todas as pessoas o Dr. Mário Soares também tem defeitos e assim ele foi sempre um homem muito ambicioso, ao ponto de lutar para obter tudo que quer, mesmo o que aparentemente é impossível conseguir. Convenhamos que, não é defeito ser lutador, paradigma que fica muito bem ao dr. Mário Soares. Sejamos coerentes e concluamos de que não é fácil semelhante proeza, conseguir-se tudo o que se quer na vida.- O Dr. Mário Soares, desta ou daquela maneira, tem sido um privilegiado da vida, é um homem cheio de tudo. Creio mesmo que há muito pouca gente que consegue na vida tudo aquilo que pretende. O Dr. Mário Soares quase o conseguiu. Veja-se alguns exemplos no nosso país: A maioria dos nossos trabalhadores tudo fazem para auferirem um rendimento no seu trabalho (aqueles que têm trabalho, claro) que lhes proporcione uma vida digna. Conseguem? - Não; Falando ainda de trabalhadores, aqueles que às vezes chegam, de manhã às empresas onde trabalham e as vêm fechadas, conseguem os três, quatro ou cinco meses de atraso no pagamento dos seus salários para além de ficarem sem trabalho, conseguem recebê-los e arranjar outro trabalho?- Claro que não. Os pensionistas, não obstante os preciosos e avantajados aumentos anuais, conseguem pagar todos os medicamentos que precisam para não morrerem?- Claro que não; O Benfica e o Sporting conseguem ganhar um campeonato pelo menos de vinte em vinte anos, não obstante gastarem fortunas em jogadores? - Claro que não. Outros, muitos exemplos poderíamos dar, realçando ainda mais esta figura incontornável que é o nosso Mário Soares ( O Marocas, como muitos dizem pelo seu ar bonacheirão. Com aquelas bochechas!). Mas não se pense que o Dr. Mário Soares foi sempre assim "um bonzinho". Recordemos aquela passagem no autocarro, quando ele era presidente da Republica, em que ele manda embora o guarda republicana que estava cumprindo o seu dever acompanhando a caravana presidencial. Soube-se mais tarde que o guarda até ficara muito satisfeito, porque chegou mais cedo a casa, aproveitando o tempo para acabar de plantar umas batatas numa leira do seu quintal. Dizia-se em surdina que o guarda depois mandou um saquito de batatas para a casa de férias da praia do Vau para o Sr. Presidente apreciar as ditas batatas num empadão de atum, este pescado no mar da Quarteira.


Voltando ao facto de ele ter mandado calar o já mencionado convidado, ficamos com a nítida impressão de que o Dr. Mário Soares quis imitar o nosso vizinho rei de Espanha quando, há pouco tempo, mandou também calar o presidente da Venezuela. Estamos até convencidos que se a acção do referido rei fosse em francês o nosso Mário Soares, teria feito a imitação nessa língua, já que o francês foi sempre o seu forte. Assim, o espanhol nunca foi língua do seu agrado e, muito bem, " a caladura" foi na língua de Camões. Esta proeminência desfez todas as nossas dúvidas e concluímos que, se Mário Soares não fosse um um inveterado republicano, tinha arranjado maneira de se implantar em Portugal uma monarquia a fim de ele poder vir a ser rei. Apesar de também sermos republicanos da cabeça aos pés, de certo que estaríamos na primeira linha a apoia-lo. Vejam o que iria acontecer no nosso país: - O Dr. Mário Soares seria aclamado "Rei de Portugal". sugeríamos mesmo que adoptasse o nome de "D. Mário I - O Impossível". Terminaria a quarta dinastia dos duques de Bragança e iniciar-se-ia a quinta dinastia dos duques de Soares, e todos os portugueses seriam felizes para sempre!!!

3 comentários:

cyrano disse...

apesar de radical gosto da tua escrita...pena não ter herdado esse teu talento. Continua que estarei por aqui a ler-te. Apenas um reparo: a praia do D.Mário I é Vau e não Bau

vareira disse...

Talentos à parte...eu não herdei nenhum mesmo..apenas a teimosia!!!
Pena tenho que esse cyrano nunca me tenha dado uma palavra...mas isso é apenas para letrados...

Rui Guerra disse...

o problema é a nossa República se inspirar em modelos errados. Mário Soares viveu sempre com a ilusão francesa, um PR como símbolo do regime. Com poderes moderados, é certo. Mas, uma figura decorativa. Provavelmente a nossa República foi construida à sua vontade.